Escalonamento do horário comercial pode evitar aglomerações no transporte público
Falar de recrudescimento no número de contágio pelo Coronavírus começa a tornar-se redundante, assim como tratar a atual fase da pandemia no país como “segunda onda” de contaminação. Isso porquê, quem faz uso regular de transporte público para ir e vir dos compromissos, está tão exposto a contaminação agora, quanto há três meses atrás ou há seis meses, no pico 2020 da pandemia. E concordando com a ciência, quanto a necessidade do distanciamento social como forma de combater surtos de contágio e maior exposição dentro dos metrôs e ônibus, o escalonamento do horário de funcionamento do comércio, industrias e atividades econômicas deve ser visto como uma ferramenta para evitar a concentração de pessoas no transporte.
Apesar do que disse em janeiro desse ano, o Secretário de Justiça e Direitos Humanos do estado de Pernambuco, Pedro Eurico, durante uma entrevista para um telejornal, afirmando que “… o ônibus não é um vetor importante da contaminação [por Covid-19]”, é preferível levar em conta o que afirma a Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ). Em um parecer técnico, a Fiocruz, no Programa de Evidências para Políticas e Tecnologias de Saúde, realizado em agosto de 2020, argumenta sobre o nível de disseminação do vírus, em particular, no uso de trens e metrôs; a instituição afirma no resumo dos resultados que, “trens lotados podem aumentar em 2-3 vezes a transmissão e antecipar o pico da curva epidêmica em 30 dias”.
Vale destacar que a média de passageiros transportados pelo Metrô do Recife, em tempos de normalidade, é de 400 mil passageiros/dia, número que se fraciona entre os “horários de pico”, das 5h até às 9h e 17h até às 19h, que é onde se concentra o maior volume de passageiros, além do “horário de vale” que se dá no intervalo desses horários, com menor fluxo de pessoas transportadas. Se esses passageiros do horário de pico fossem condicionados, pela mudança do horário de trabalho, a tomar o transporte em momentos alternados, o volume de pessoas transportadas na mesma viagem proporcionalmente diminuiria, impactando positivamente na redução da transmissão.
A proposta de escalonamento em certa medida já foi apresentada no ano passado para o governo de Pernambuco, pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), sugerindo mudanças nos horários de trabalho para evitar as aglomerações nos ônibus. Tal proposta tanto deve ser considerada, quanto deve ser um ponto de partida para no curto prazo e em diálogo com agentes públicos, privados e sociedade civil interessada na pauta da mobilidade urbana, encontrar soluções até estruturadoras para esse mesmo problema, depois de vencida a pandemia. A responsabilidade da condução dessas mudanças é do governo de Pernambuco, que deve assumir urgente esse protagonismo.
Até lá, cabe uma política rigorosa de proteção social dos entes do Estado brasileiro, para evitar uma piora ainda maior nos índices de doentes e mortos por Covid-19. Para isso, políticas de restrição da circulação de pessoas, somadas a garantias financeiras para o sustento das famílias, como o Auxílio Emergencial se fazem necessárias.
Foto: Reprodução NE10