25 de julho – Dia Internacional das Mulheres Negras Latino Americanas e Caribenhas e Dia Nacional de Tereza Benguela
Por: Telma Barbosa – Diretora da Pasta de Gêneros e Raças
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, é uma data importante pois nos remete a história de luta e resistência da mulher negra contra o racismo, a violência e a exploração de classe.
Mulheres negras, sofrem violências de maneiras similares às outras mulheres, abuso na infância, violência sexual, trafico, violência doméstica, entre outros absurdos. Porém, devido ao racismo, a violência contra a mulher negra é muito maior. É preciso também denunciar, que segundo o mapa da violência, em dez anos o feminicídio de mulheres negras aumentou em 54%. Entre as mulheres vítimas de violência doméstica, 58,86% são negras. E 65,9% das vítimas de violência obstétrica também são mulheres negras.
A realidade da mulher negra, sempre foi de exclusão e essa data é importante porque reforça a luta contra o sexismo, o machismo e evidencia essa parcela da população feminina, que peleja com tantas dificuldades por seus direitos, principalmente contra a desigualdade racial e de gênero.
Quem foi Tereza de Benguela?
Quilombola que viveu no século XVIII, era uma liderança do Quilombo do Quariterê ou do Piolho, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso. Quando seu marido morreu, Tereza assumiu o comando daquela comunidade quilombola, revelando-se uma líder ainda mais implacável e obstinada. O Quilombo do Quariterê cresceu tanto sob seu comando que chegou a agregar índios bolivianos e brasileiros.
Isso incomodou muito as autoridades das Coroas, espanhola e portuguesa. A Coroa Portuguesa, junto à elite local, agiu rápido e enviou uma bandeira de alto poder de fogo para eliminar os quilombolas. Tereza de Benguela foi presa. Não se submetendo a situação de escravizada, suicidou-se. O dia de 25 de julho é instituído no Brasil, pela Lei número 12.987, como o Dia Nacional de Teresa de Benguela.
A Diretoria de Gêneros e Raças do Sindmetro/PE, homenageia todas as mulheres negras que ajudaram a construir o passado e lutaram para combater a violência de gênero no Brasil.
Uma homenagem às Mulheres Negras
Aqualtune
Filha do Rei do Congo, a princesa foi vendida como escrava para o Brasil, em razão das rivalidades existente entre os diversos reinos africanos. Grávida, foi vendida para um engenho de porto Calvo, onde pela primeira vez teve notícias de Palmares. Já nos últimos meses de gravidez organizou sua fuga e a de alguns escravos. Começa, então, ao lado de Ganga Zumba, a organização de um Estado negro, que abrangia povoados distintos confederados sob a direção suprema de um chefe. Aqualtune instalou-se, posteriormente, num desses mocambos, povoados fortificados, a 30 léguas ao noroeste de Porto Calvo. Segundo o que aponta alguns estudos, uma de suas filhas deu-lhe um neto, que foi o grande Zumbi dos Palmares. Aqualtune morreu queimada, quando já era idosa.
Dandara
Dandara foi uma grande guerreira na luta pela liberdade do povo negro. Ainda no século XVII, participou das lutas palmarinas, conquistando um espaço de liderança. De forma intransigente, entendia que a liberdade era inegociável, enfrentando todas as batalhas que sucederam em Palmares. Era a companheira de Zumbi dos Palmares. Opôs-se, juntamente com ele, a proposta da Coroa Portuguesa em condicionar e limitar reivindicações dos palmarinos em troca de liberdade controlada. Dandara morreu em 1694 na frente de batalha, para defender o Quilombo dos Macacos, mocambo pertencente ao Quilombo dos Palmares.
Luiza Mahín
Luiza Mahim, mulher negra de etnia jejê-nagô, de origem Mahi, atuou em levantes escravos que ocorreram na Bahia nas primeiras décadas do século XIX, entre eles a Revolta dos Malês, em 1835, e a Sabinada, em 1837. Existem controvérsias quanto ao local de nascimento de LUÍZA MAHIN, não se sabe ao certo se veio da África ou nasceu na Bahia, apesar da divergência dizia ter sido princesa na África. LUÍZA trabalhava como ganhadeira, ou seja, ela vivia do pequeno comércio de rua. Foi alforriada em 1812.
Mãe Menininha do Gantois
Maria Escolástica da Conceição Nazaré, mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois nasceu em 10 de janeiro de 1864. Era neta de escravizados da tribo Kekeré, da Nigéria. Foi iniciada no candomblé, ainda criança, no terreiro fundado pela sua bisavó. Aos 28 anos de idade, como filha de Oxum, assumiu o cargo de maior hierarquia na religião e foi a quarta Iyálorixá do Terreiro do Gantois, conseguiu estabelecer interlocuções como várias personalidades, buscando o respeito da sociedade para a religião, muito perseguida pelo poder político. Devido aos seus poderes espirituais e sua capacidade de agregar as pessoas, conquistou o respeito até mesmo de outras religiões.
Auta de Souza
Nasceu em 1876 em Macaíba, Rio Grande do Norte, em uma família próspera. Órfã de mãe aos dois anos de idade, e de pai, aos quatro, foi criada pela avó. Em 1887, foi matriculada no Colégio são Vicente de Paula, mas com tuberculose, é obrigada a retornar à casa da avó e completar sua formação na Biblioteca do irmão, poeta, jornalista e deputado federal.
Escrevendo versos em Português e Francês, Auta, mesmo antes de completar 20 anos, colaborava na imprensa de seu Estado. Em 1901 publicou o livro “O Horto”, prefaciado por Olavo Bilac e muito elogiado pela crítica. Se tornou a primeira poeta negra reconhecida na literatura brasileira e muito de seus versos foram transformados em cantigas. Auta de Souza morreu em 1901, com apenas 25 anos de idade.
Maria Felipa
Maria Felipa de Oliveira, ou simplesmente Maria Felipa, é uma heroína baiana esquecida por um grande número de historiadores. Não se sabe qual a data do seu nascimento. Nasceu escrava. Depois foi libertada e como liberta trabalhou coletando mariscos e jogando capoeira, nas horas vagas. Aprendeu a luta da capoeira para vadiar e se defender. Queria que o Brasil se libertasse da dominação portuguesa, que para ela era a única responsável pela escravidão dos seus avós e descendentes. Para cumprir seu destino, começou se escondendo no outeiro da Fazenda 27, em Gameleira (Itaparica), para acompanhar, durante a noite, a movimentação das caravelas lusitanas. Em seguida, tomava uma jangada e ia para Salvador, passar as informações para o Comando do Movimento de Libertação.
Alzira Rufino
Militante do Movimento Negro e de Mulheres Negras da Baixada Santista nos anos de 1980/90, foi a primeira escritora negra a gravar seu depoimento no Museu de Literatura Mario de Andrade de S.P. Sua obra está no livro de poesias “Eu, mulher negra, resisto”. Pioneira em escrever para imprensa com recorte de gênero e raça. Em março de 1985 organizou a primeira Semana da Mulher da região da Baixada Santista, reunindo todas as organizações de mulheres. Em 1986, fundou o Coletivo de Mulheres Negras da Baixada Santista, um dos mais antigos grupos de mulheres negras do Brasil.
Em 1990, fundou a Casa de Cultura da Mulher Negra. Desde 1991, a ativista é Fellow da Ashoka, tendo coordenado a Rede Feminista Latino-Americana e do Caribe contra a Violência Doméstica, Sexual e Racial. Segue sua militância articulando a luta de combate ao racismo e a violência contra mulher.
Helenira de Souza
Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), desaparecida desde 1972, na Guerrilha do Araguaia, quando tinha 28 anos, Helenira Resende se destacou na resistência à ditadura no Brasil.
Iniciou sua militância no movimento estudantil da sua cidade natal. Em São Paulo, destacou-se como líder estudantil e chegou a ser vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1969.
Foi presa em maio de 1968, no momento em que convocava colegas para uma manifestação na capital paulista. Ainda naquele ano de fortes mobilizações estudantis, foi presa novamente como delegada do 30º Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), e levada para o Presídio Tiradentes. Depois, foi transferida para o Dops, onde foi jurada de morte pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.
Helenira foi solta por força de um habeas corpus, pouco antes da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5). A partir daí, passou a atuar na clandestinidade, vivendo em diversos locais até ir para a região do Araguaia, no sul do Pará, para contribuir na organização da luta armada rural contra o regime. Usando o codinome “Fátima”, fez trabalho político e ajudou a preparar a Guerrilha do Araguaia.
No dia 29 de setembro de 1972, Helenira acabou sendo ferida num tiroteio e metralhada nas pernas, numa emboscada feita por fuzileiros navais. Recusou-se a entregar a localização de seus companheiros aos militares, e acabou sendo torturada e morta.