Transporte de alimentos, um dos principais influenciadores da fome no país
O Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos no mundo
Com a pandemia do coronavírus e seus efeitos econômicos, o Brasil caminha para voltar ao Mapa da Fome, segundo pesquisas do escritório brasileiro do Programa Mundial de Alimentos, a maior agência humanitária da ONU.
Dados recentes do IBGE afirmam que no país mais de 10 milhões de pessoas não têm o que comer, devido ao grande número de desperdícios e as dificuldades na distribuição desses alimentos. Toneladas deles, muitas vezes, ainda em bom estado para consumo, se perdem ao longo do caminho, seja por má conservação ou, até mesmo, por falta de embalagem adequada para o transporte rodoviário. E a maneira como o alimento é abastecido nos caminhões e o tempo que esse tipo de transporte leva para chegar aos locais de distribuição, faz com que a soma de desperdício chegue a 50%.
Pesquisas apontam que o Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos no mundo, sendo 41 mil toneladas de alimentos desperdiçados por ano. A falta de conhecimento no manejo, mal acondicionamento no transporte e estoque, embalagem mal pensada e controle de qualidade só reforçam esses 50% de desperdício de comida no país.
O tempo para que o produto saía do centro de distribuição até chegar para ser descarregado nos pontos de venda, toda a logística para poder dar entrada no estoque, organizar e finalmente ser levado para que o consumidor tenha acesso à compra pode levar dias, o que contribui para a perda de parte da carga.
Como amenizar esse desperdício na distribuição
Atualmente o Brasil utiliza apenas 20% da sua capacidade de malha ferroviária, devido à ausência de investimentos, falta de gerenciamento e logística defasada. O país só teria a ganhar ampliando o uso de ferrovias, garantindo menos poluição, fretes mais baratos, menos acidentes, além da agilidade no transporte dos alimentos.
Um projeto de planejamento logístico do país com a construção de novas ferrovias requer tempo, o que acaba sendo prejudicado pelas trocas de governo no Brasil, que normalmente significam o abandono de projetos antigos em nome de renovação da agenda.
Uma rede ferroviária ampla e interligada beneficiaria todo o processo produtivo e o escoamento das exportações brasileiras. Infelizmente as ferrovias representam apenas 15% da estrutura de transportes no Brasil, um percentual considerado baixo.
A predominância do transporte rodoviário, que representa 65% do total, atrapalha o trânsito nos grandes centros, é mais poluente, deixa as empresas mais suscetíveis a roubos de carga e desperdícios, custa mais e leva a mais acidentes.
Um vagão graneleiro comporta, em média, 100 toneladas de grãos, enquanto um caminhão bi-trem transporta apenas 36 toneladas, segundo o comparativo de especialistas em transporte de carga. Mesmo assim, o país tem mais de 300 mil quilômetros de rodovias, e pouco menos de 30 mil quilômetros em ferrovias. Além disso, na situação atual, o transporte rodoviário é responsável por 95% das emissões de gás carbônico (CO2), enquanto o ferroviário representa apenas 5%.
Para amenizar e solucionar boa parte dessa porcentagem de desperdício de alimentos, seria necessária mais agilidade no transporte. Se quem tem fome tem pressa, ainda que haja tempo de reparar esse erro, o Brasil já está muito atrasado em planejar um Estado garantidor de segurança alimentar.