Saque do FGTS: Um barato que pode sair caro
O Ministério da Economia anunciou a injeção de R$ 40 bilhões de reais em circulação no Brasil por meio da liberação de saques nas contas ativas do FGTS pelos próximos dois anos. O valor anunciado será em média de 500 reais por conta vinculada ao fundo de garantia. Pela legislação em vigor no país, o deposito que o empregador faz todo o mês só pode ser sacado pelo empregado em determinadas condições, como demissão sem justa causa, doenças graves, financiamento de imóvel e aposentadoria.
Sem ser movimentado o rendimento desse fundo que existe desde o ano de 1968, ganhou um direcionamento estratégico visando às garantias do desenvolvimento na infraestrutura social brasileira, por isso, regularmente, em meio às obras imobiliárias, viárias e de saneamento, nas placas explicativas ou mídias de propaganda do empreendimento se vê a logomarca do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
O governo sustenta que por ser um recurso depositado na conta do trabalhador, porém, sem que o titular tenha o direito de movimentação e sendo por isso, remunerados com taxas de juros abaixo das trabalhadas pelo mercado, caberia liberar essa reserva para melhorar o desempenho da economia. Mesmo que sem considerar a alta taxa de inadimplência da população em particular com os bancos, a partir do cartão de crédito, o que na prática irá derreter o poder de compra do dinheiro quando for posto em circulação.
Riscos
Mas existe um problema mais grave que este. Trata-se da contrapartida financeira ao Estado, que o governo federal não está apresentando para suprir a liberação desse recurso. A equipe econômica da gestão Bolsonaro afirma que não haverá impacto no cofre do FGTS, mas setores da indústria da construção civil já sinalizam futuros problemas com a falta de recursos para financiar obras. Trata-se de um setor que se pauta justamente pelo arcabouço financeiro do Estado para garantir ao que se propõe originalmente o fundo, que é desenvolver a infraestrutura do país.
Iniciativas como o Pró-Transporte, coordenados pela Caixa Econômica Federal, que usa dinheiro do FGTS para custear obras de urbanização, transporte e a infraestrutura das cidades, por exemplo, a expansão e qualificação do metrô nas capitais, correm o risco de serem desmontadas por disparidades entre o que é depositado de forma compulsiva, todos os meses nas contas dos empregados e o volume atual que está sendo dispensado para a retirada.
Pensar na economia do país é mais do que estar preocupado com dados de curto prazo e com variações do Produto Interno Bruto (PIB). Medidas simplistas, sem sustentação econômica podem de imediato render expectativas, mas poderão fazer o país pagar caro no futuro breve, pela falta de zelo com um desenvolvimento sustentável para as cidades.