Ao completar primeiro mês do distanciamento social, número de mulheres baleadas dobrou em Recife
Dois fenômenos que estão coexistindo em meio à pandemia de Coronavírus no Brasil; o necessário distanciamento social, que tem se mostrado eficaz na redução do ciclo de contágio da Covid-19, tendo forçado muitas pessoas a se reclusar nas residências e o machismo que violenta as mulheres cotidianamente. Ambos os fenômenos ocorrendo dentro das casas. De acordo com o laboratório de dados sobre violência armada Fogo Cruzado, entre 21 de março a 20 de abril, houve 162 eventos com disparos de arma de fogo no Grande Recife, onde 194 pessoas foram baleadas. O instituto mapeou 12 mulheres baleadas, onde cinco morreram.
Se comparado com os dados do mesmo período do ano passado, esse número representa o dobro de mulheres baleadas no Grande Recife, sendo em 2019, seis mulheres foram baleadas.
Dados de 2010, da pesquisa Mulheres Brasileira nos Espaços Públicos e Privados afirmam que a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no Brasil, sendo que em 80% dos casos essa violência é promovida pelo próprio “parceiro”. Como a necessidade do distanciamento social pegou a todos de surpresa, nem os profissionais que trabalham na prevenção da violência de gênero conseguiram dar conta da velocidade de medidas, visando convergir meios para combater o vírus e evitar o aumento de casos de violência contra as mulheres dentro das próprias casas.
Registros oficiais do governo do estado do Rio de Janeiro apontam para um aumento em 50% de casos de violência doméstica durante este período de confinamento.
Números no mundo
Tal como o Coronavírus que está sendo combatido em todo o planeta, essa ligação entre o confinamento e a violência doméstica está sendo percebida inclusive pela Organização das Nações Unidas. Há recomendações da ONU para os países aumentar o investimento em serviços online de denuncias, para que os sistemas judiciais continuem processando os agressores. Recomenda ainda declarar abrigos para vítimas de violência de gênero como serviços essenciais, evitar libertar prisioneiros condenados por violência contra mulheres e ampliar campanhas de conscientização pública, principalmente as voltadas para homens e meninos.
Pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) detalhou os impactos perturbadores da violência sobre a saúde física, sexual, reprodutiva e mental das mulheres. A questão afeta as economias desenvolvidas e as mais pobres: quase 1/4 das estudantes universitárias relatou ter sofrido agressão sexual ou má conduta nos Estados Unidos, enquanto em partes da África Subsaariana, a violência por parceiros é uma realidade para 65% das mulheres.
Esses números dão uma indicação da escala do problema, mas apenas cobrem países onde existem sistemas de informação: enquanto o vírus se espalha em países com instituições já fracas, menos informações e dados estarão disponíveis, mas a expectativa é de que a vulnerabilidade de mulheres e meninas estará mais alta.